Como otimizar o uso da toxina botulínica?

 

A toxina botulínica é uma proteína obtida a partir da bactéria Clostridium botulinum. Os primeiros estudos a seu respeito datam da década de 60, quando pesquisadores perceberam que se tratava de uma substância eficaz no tratamento do estrabismo. No entanto, foi apenas em 1988 que começaram os estudos acerca do seu uso cosmiátrico.

A bactéria produtora da toxina botulínica é responsável pela síntese de vários sorotipos. O sorotipo A é o mais potente e aquele cuja produção desperta maior interesse.

A toxina botulínica inibe a liberação do neurotransmissor acetilcolina na placa neuromuscular, provocando uma paralisia muscular temporária. Quando a toxina é aplicada adequadamente, respeitando a anatomia e o funcionamento de cada grupo muscular da mímica facial, a paralisia muscular deve ser muito localizada.

Embora seja considerada um produto seguro, a toxina botulínica é contraindicada em algumas situações. Por exemplo: no caso de infecções locais; doenças neuromusculares (p.ex. miastenia gravis); uso de medicações que podem aumentar a biodisponibilidade da toxina, causando toxicidade (p.ex. quininas, aminoglicosídeos, penicilaminas, bloqueadores de canais de cálcio); gestação e lactação; alergias (principalmente à albumina); pacientes que usam expressões faciais profissionalmente (p.ex. atores e músicos); paciente em uso de anticoagulantes; uso de toxina há menos de 4 meses etc. Além disso, tabagismo, práticas frequentes de atividades físicas ou exposição solar exagerada podem reduzir a durabilidade da toxina.

Existem várias marcas de toxina: cada dermatologista tem uma marca de sua preferência, com a qual adquiriu mais experiência.

Na grande maioria das marcas, a toxina deve ser mantida em geladeira (2-8°C) e, para ser utilizada, deve passar por um processo de reconstituição, em que soro fisiológico é adicionado a um pó seco (que pode ser liofilizado ou congelado a vácuo).

O procedimento para aplicação da toxina botulínica é, basicamente, o seguinte:

 

  • Antes de aplicar a toxina, o médico dermatologista deve fotografar o paciente em repouso e em movimento (repetindo mímicas e “caretas” faciais).

 

  • A dor é um sintoma variável e alguns pacientes toleram bem o procedimento, inclusive sem a necessidade de aplicação anestésica. No entanto, se for o caso, inicia-se o procedimento com anestesia tópica (durante o procedimento, para minimizar a dor, pode-se utilizar estímulos vibratórios e aplicação local de gelo).

 

  • Realiza-se, então, uma antissepsia vigorosa, para evitar contaminações, e marca-se os pontos em que toxina será aplicada. Essa marcação é feita de forma individualizada, palpando-se a musculatura e pedindo para que o paciente realize movimentos de susto, enrugue a testa, sorria bem forte (inclusive mostrando os dentes), simule uma sensação de cheiro ruim, entre outros.

 

  • Por fim, a aplicação é feita com seringas delicadas e agulhas muito finas (em geral, de 6mm).

 

Os resultados começam a ser percebidos a partir de 2 a 3 dias após a aplicação da toxina, sendo que o resultado final costuma ser observado em torno de 15 dias. Após esse período, o paciente deve retornar em consulta para revisar o tratamento, avaliar o efeito obtido, realizar novas fotografias e, se necessário, aplicar pequenas doses complementares. Segundo a literatura e as informações disponibilizadas pelos fabricantes, a duração do efeito da toxina botulínica é de 4 meses (embora, muitas vezes, o resultado possa ser percebido por mais tempo). Habitualmente, o intervalo entre as aplicações costuma ser entre 5 e 6 meses.

 

Embora a toxina seja utilizada principalmente para o tratamento de expressões faciais, ela também pode ser um tratamento adjuvante (ou seja, associado a outros tratamentos) em queloides e cicatrizes hipertróficas, enxaqueca, sorrisos assimétricos e gengivais. A toxina botulínica pode também ser utilizada em casos de bruxismo, hiperidrose (a sudorese excessiva em axilas, palmas, plantas e couro cabeludo, principalmente), rugas do colo e pescoço, espasmo de pálpebra e em pós-operatório de cirurgias de face que resultaram em algum tipo de assimetria.

Uso da Toxina botulínica em tratamentos faciais

Na face, a toxina é utilizada, por exemplo, para:

 

  • Tratar as rugas glabelares (aquelas que aparecem quando ficamos “bravos”), suavizando, de forma natural, as expressões habituais;

 

  • Suavizar as linhas que se formam no rosto ao sorrir, como na testa (ao elevar a sobrancelha), em torno dos olhos (os famosos “pés de galinha”), e nas laterais do nariz (que lembram o movimento dos coelhos);

 

  • O sorriso gengival (aquele que expõe a gengiva exageradamente), assim como o movimento que acontece quando, ao falar ou sorrir, o paciente abaixa a ponta do nariz;

 

  • A “celulite do queixo” (ruguinhas que se formam ao contrair a musculatura mentoniana), assim como as ruguinhas periorais, que ficam mais evidentes com a idade;

 

  • Definir melhor o contorno e a linha da mandíbula, diminuindo a ação do músculo platisma na região.

 

O tratamento completo da face busca um resultado harmônico, que proporcione uma musculatura facial equilibrada, uma face mais jovial, descansada, sem rugas tão marcadas e com aspecto natural. O tratamento a longo prazo melhora, progressivamente, o padrão das rugas (que, com o passar do tempo, vão se tornando cada vez mais leves).

Como todos os procedimentos cosmiátricos, a aplicação da toxínica botulínica envolve riscos e possíveis complicações. Assim, embora seja uma ótima opção terapêutica, com efeitos temporários, algumas intercorrências podem acontecer. Paralisações exageradas, inchaços e queda de pálpebra, aumento da distância entre sobrancelhas, hematomas, alterações visuais, sensação de “testa pesada”, assimetrias, dificuldades de deglutição, entre outras.

Por isso, é muito importante que o procedimento seja realizado por médicos habilitados, que tenham conhecimento adequado da anatomia e da funcionalidade dos músculos da face. Essas complicações devem ser exceção e, se ocorrerem, o paciente merece ser assistido com máxima perícia, assegurando-lhe uma boa recuperação.

 

*Texto desenvolvido por Dra. Larissa Klumpp, dermatologista CRM 142.389/RQE 89.489