Cirurgia dermatológica no tratamento de sequelas da hanseníase

 

O ano começa com o Janeiro Roxo, mês dedicado a conscientizar sobre a hanseníase, esclarecendo à população sobre sintomas, prevenção e tratamento. O Brasil ocupa a 2ª posição no mundo em maior número de casos, entre os países que diagnosticam a doença, ficando atrás somente da Índia. A hanseníase é uma doença infecciosa e contagiosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Por ser altamente incapacitante, é carregada de estigma. Felizmente, tem cura e, se tratada precocemente, não deixa sequelas.

 

Os sintomas da hanseníase são manchas mais claras, vermelhas ou mais escuras, com alteração da sensibilidade no local, às vezes acompanhada de perda de pelos e ausência de transpiração. Se um nervo é afetado, pode ocorrer dormência, perda de força muscular e retrações dos dedos, causando incapacidade física. As partes mais frias do corpo, como nariz e orelhas, podem ter caroços ou apresentar inchaço. A transmissão ocorre da pessoa infectada e sem tratamento para pessoas saudáveis por meio de contato com gotículas de saliva ou secreções do nariz. É uma doença de incubação longa: o tempo entre o contágio e a apresentação de sintomas varia de seis meses a cinco anos.

 

Diagnóstico e tratamento

 

O diagnóstico é feito por avaliação clínica dermatoneurológica do paciente. Pode ser feita também a baciloscopia, ou seja, coleta da serosidade cutânea em orelhas, cotovelos e da lesão de pele. É possível ainda realizar biópsia da lesão ou de uma área suspeita, fazendo um exame citopatológico a partir de um fragmento de pele.

 

O tratamento da hanseníase é medicamentoso e feito gratuitamente pelo SUS. Após a primeira dose da medicação, não há mais risco de transmissão durante a terapia. O tratamento é longo – de 6 meses, nos casos mais brandos, até 12 meses, nos mais graves – mas eficaz, e permite a cura da doença.  O ideal é que o paciente seja tratado precocemente. Quando mais cedo descobrir e tratar, memores as chances de complicações. No entanto, isso nem sempre acontece, devido a diagnósticos tardios e à falta de informações.

 

Cirurgia dermatológica

 

A cirurgia dermatológica pode desempenhar um papel muito importante no diagnóstico da hanseníase, já que a biópsia, seguida pela análise do quadro histopatológico, é um procedimento fundamental para o diagnóstico correto e preciso da doença.

 

A cirurgia dermatológica, assim como a cirurgia plástica, também pode entrar em ação para o tratamento de algumas sequelas, nos casos de doença mais avançada.

Nos casos em que a doença esteja em um estágio mais avançado, com lesões mais graves, a cirurgia dermatológica é eficaz para o manejo de sequelas. Nestes casos, a cirurgia dermatológica pode contribuir em reconstruções nasais quando o paciente perdeu ou teve desabamento no nariz devido à hanseníase, ou da reconstrução do pavilhão auricular nos casos de pacientes que tiveram as orelhas afetadas.

 

Além disso, a cirurgia dermatológica também auxilia na recuperação de úlceras e lesões em membros inferiores, que podem surgir em fases mais tardias da doença. Nos casos em que o paciente teve perda de pelos, condição conhecida como madarose, é possível fazer o transplante de sobrancelha, com a técnica FUE (Follicular Unit Extraction), que remove unidades foliculares pré-selecionadas contendo apenas um fio de cabelo, sem deixar cicatrizes no local.

 

“Tanto a ação da cirurgia plástica quanto dermatológica podem trazer bons resultados quando executadas por profissionais experientes, melhorando a qualidade de vida do paciente”, afirma do cirurgião dermatológico Ivander Bastazini Jr., diretor da Divisão de Dermatologia do Instituto Lauro Souza Lima. “Todavia, o ideal é que o diagnóstico seja feito o mais precocemente possível, antes que esse tipo de sequela se manifeste. “

 

Erradicada em grande parte do mundo, a hanseníase ainda é um problema de saúde pública no Brasil, mas que pode ser reduzido com iniciativas como o Janeiro Roxo, por isso a SBCD apoia esta causa. A melhor forma de prevenir a hanseníase é o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, que leva à cura.